17/10/2011 - Mudança climática e desmatamento poderão causar prejuízos irreversíveis na Amazônia
17/10/2011
Estudo analisou dados de satélite e identificou as regiões mais sensíveis à influência humana e à alteração dos regimes de chuva
O desmatamento na região amazônica e a falta de chuvas poderá transformar, permanentemente, parte da floresta em savana (iStockphoto)
A floresta amazônica e outras regiões tropicais poderão sofrer alterações abruptas por causa das mudanças climáticas, passando de florestas densas a savanas, e de savanas a estados com total ausência de árvores, segundo estudo realizado por cientistas da Universidade de Wageningen, Holanda, e publicado no periódico Science.
Veja
entrevista com o climatologista Antônio Nobre
A equipe da cientista brasileira Marina Hirota mostra a fragilidade de
florestas tropicais e savanas em função da quantidade de cobertura
arbórea e de chuvas em três continentes: África, Austrália e América do
Sul. Dentre as áreas mais sensíveis está a região amazônica. Os autores
utilizaram os resultados dessas relações para prever onde florestas e
savanas são mais vulneráveis a mudanças nos regimes de chuva.
De acordo com a pesquisa, o sul da Amazônia, conhecido como "arco do
desmatamento", por causa da pressão que a ocupação humana exerce na
região, poderá deixar de ser floresta para se transformar
permanentemente em savana. A região é afetada pela constante remoção
ilegal de árvores. A transformação, sugere o estudo, é potencializada
por causa das mudanças climáticas.
Saiba mais
SAVANA
A savana é uma região cuja vegetação predominante é de árvores
esparsas, arbustos isolados e gramíneas. O cerrado brasileiro é um tipo
de savana.
TIPPING POINTS
Os "tipping points" são pontos geralmente sem volta, quando um
ambiente entra em transição para se transformar em outro, uma savana em
deserto, por exemplo.
De acordo com a pesquisa, a vegetação mundial se alterna entre três
tipos: florestas, savanas e estados com ausência de árvores, com picos
de aproximadamente 80%, 20%, e menos de 5% de cobertura arbórea,
respectivamente. "Nossa teoria afirma que as florestas podem se
transformar diretamente em uma savana, o que chamamos de tipping
points, ou pontos de inflexão do sistema. Quando isso
acontece, geralmente não há mais volta", diz Marten Scheffer, um dos
autores da pesquisa. "Ficamos surpresos com a maneira como os dados
apoiaram essa teoria dos estados alternativos."
Irreversível - O estudo também mostra os lugares do
planeta onde há potencialmente os maiores riscos de colapso e as maiores
oportunidades de recuperação da floresta. "Conforme um sistema se
aproxima de um 'tipping point', ele se torna altamente vulnerável", diz
Scheffer. "Perturbações relativamente pequenas, tais como um ano
ligeiramente mais seco ou um desmatamento de pequena escala, podem
disparar um transição crítica para outro estado de equilíbrio”.
Mas existe uma possibilidade de reverter o processo. Os resultados
revelam que locais sem nenhuma cobertura arbórea poderiam se tornar
savanas, por exemplo, por meio de técnicas de manejo. "A cobertura
arbórea é um dos aspectos que mais definem a paisagem dos ecossistemas",
diz Milena Holmgren, uma das autoras do estudo e especialista em
ecologia vegetal. “No entanto, é surpreendente quão pouco entendemos as
condições que determinam a existência de florestas, savanas ou
desertos”.
A especialista explica que o volume das chuvas é um dos poucos fatores
conhecidos. "Desertos são encontrados em lugares mais secos e as
florestas em lugares mais úmidos. Entretanto, o que ocorre em condições
intermediárias vem sendo debatido por muito tempo”.
Amazônia - Um dos maiores desafios dos cientistas que
estudam a região amazônica é compreender os potenciais impactos das
mudanças climáticas na floresta. “Nosso estudo mostra que a floresta é
mais vulnerável climaticamente em áreas em que a interferência humana
negativa é muito alta", explica a pesquisadora Marina Hirota.
Ela se uniu à equipe de Wageningen após finalizar seus estudos no
Brasil sobre a fragilidade da Amazônia associada às mudanças climáticas.
"Esse tipo de informação pode ser utilizada em tomada de decisões, a
partir da avaliação dos riscos e das oportunidades ligadas aos
ecossistemas tropicais que ainda cobrem grandes porções do nosso
planeta”.
(fonte:/veja.abril.com.br)
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