29/08/2011 - Aterro sanitário em Cingapura atrai turistas; espera é de 4 meses
29/08/2011
Quatro meses de espera é o tempo
que leva para os turistas conhecerem um aterro sanitário em Cingapura, o Pulau
Semakau, cujo número de visitantes triplicou nos últimos cinco anos, passando
de 4.000, em 2005, para 13.000, em 2010.
Mas o local não é um lixão. É uma
ilha artificial que lembra uma reserva natural, apesar das 9,8 milhões de
toneladas de lixo incinerado que ficam a cerca de 30 centímetros abaixo da
superfície.
A escassez de terra em Cingapura
--menor do que Rhode Island (3.140 quilômetros quadrados)-- levou o governo a
desenvolver técnicas inovadoras para descarte de lixo.
Ao juntar duas pequenas ilhas com
área quase igual ao Central Park, o governo criou o aterro, o primeiro depósito
de lixo na costa de Cingapura que agora é uma atração popular.
Pescadores esportivos vêm durante
o dia e astrônomos à noite para observar o céu longe das luzes da cidade.
Grupos escolares têm permissão de entrar nas poças formadas pela maré para
procurar anêmonas e estrelas-do-mar. De acordo com Ong, os passeios na faixa
coberta pela maré são tão populares que estão reservados para quase o ano
inteiro.
As instalações de US$ 360 milhões
incluem um quebra-mar de 7 km feito de areia, pedra, argila e uma geomembrana
de polietileno, que acompanha a periferia da ilha para impedir vazamentos.
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O lixo incinerado do continente
chega em barcaças e a cinza molhada é esvaziada em fossos para um dia serem
cobertos de terra, onde palmeiras e outras plantas crescem naturalmente.
Converter aterros em áreas de uso
público não é novidade. Em Nova York, o aterro Fresh Kills, em Staten Island,
fechado em 2001, será reaberto como parque em torno de 2035.
Em 1994, o Japão transformou um
velho aterro sanitário na região sudoeste de Osaka no Aeroporto Internacional
de Kansai, o primeiro aeroporto marinho do mundo.
Porém, Semakau é o único aterro
ativo que recebe lixo incinerado e industrial ao mesmo tempo em que dá suporte
a um ecossistema florescente, que conta com mais de 700 tipos de plantas e
animais e várias espécies ameaçadas.
"Mesmo operando um aterro, a
biodiversidade continua a florescer", diz Ong Chong Peng, gerente geral do
local. "Queremos manter esse equilíbrio o máximo possível."
Fauna e flora são tão preciosas
em Semakau que o perímetro previsto do aterro foi alterado para garantir que
duas florestas de mangue tivessem acesso à água doce com a mudança da maré.
Espécies protegidas como a garça Ardea
sumatrana e tarambolas-da-malásia se reproduzem na ilha, e o ameaçado
golfinho-corcunda-indopacífico foram vistos pelas redondezas.
Semakau também é o único aterro
sanitário ativo que costuma incentivar visitas do público cinco dias por
semana. Enquanto o lado oriental da ilha está cheio de espaços esperando para
serem preenchidos, a porção oriental recebe espectadores desde 2005.
Neste ano, depois de mais de uma
década em operação, o lado oriental da ilha está programado para
desenvolvimento e pode começar a receber lixo já em 2015.
A Agência Nacional de Meio
Ambiente, que mantém o local, prevê que, com os dois lados recebendo dejetos, o
aterro ficará aberto até pelo menos 2045.
CRÍTICAS
A Agência Nacional de Meio
Ambiente do país garante que o sistema único do aterro reduz o volume de lixo
em 90%, acrescentando que 2% da energia de Cingapura são produzidos pelos
quatro incineradores do continente.
Porém, os críticos reprovam um
gerenciamento de lixo baseado inteiramente na incineração. Incineradores de
larga escala, como os do país, têm períodos curtos de vida, às vezes de apenas
dez anos, antes de necessitarem troca.
Para ambientalistas do Greenpeace,
a incineração simplesmente transforma o problema do lixo num problema de
poluição.
"O Greenpeace é contrário à
incineração de lixo por ser uma grande fonte de substâncias cancerígenas como
dioxina, além de outros poluentes nocivos, como o mercúrio, e compostos
orgânicos voláteis", explica Tara Buakamsri, diretor de campanha para o
Sudeste Asiático.
Protestos públicos na Malásia e
Indonésia ocorreram depois que o governo anunciou planos de construir novos
incineradores. Já os filipinos os baniram em 1999 por causa dos riscos à saúde
--mesmo ano em que o governo cingapurense passou a usá-los para operar o
Semakau.
Também existe o pequeno, mas
real, risco de que o lixo contamine o ocean
Aterro Pulau Semakau serve de reserva natural; local é aberto para turistas durante cinco dias da semana
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