07/10/2011 - Iceberg no copo
07/10/2011
Levar um iceberg das regiões geladas para
abastecer a sede de países áridos já não é um sonho impossível. Um
engenheiro francês e a tecnologia 3D mostram como isso pode ser feito.
Por Eduardo Araia
Enquanto mais de 1,1 bilhão de pessoas sofrem com a escassez de água potável no mundo, o aquecimento global induz um número cada vez maior de icebergs a desprender-se da Groenlândia e da Antártida, atrapalhando a navegação até desfazer-se no oceano. Alguns idealistas perguntam: não seria possível evitar esse desperdício e levar os blocos de gelo, com sua água puríssima, para as regiões áridas do planeta? Até pouco tempo atrás, pouca gente levaria a ideia a sério. A moderníssima tecnologia 3D está mudando essa avaliação.
O principal responsável pela revisão do conceito é um engenheiro francês, Georges Mougin. Nos anos 1970 ele integrava a equipe convocada pelo príncipe Mohammad al-Faisal, da Arábia Saudita, para tornar realidade o projeto Iceberg Transport International, o plano de envolver um iceberg de 100 milhões de toneladas em lona e plástico e levá-lo das regiões árticas até o Mar Vermelho.
As imensas dificuldades previstas e o custo mínimo de US$ 100 milhões assustaram até os megamilionários sauditas e o projeto não foi adiante, mas Mougin não descartou a ideia e continuou discutindo- a com glaciologistas, oceanógrafos e meteorologistas. Três décadas e meia depois, o engenheiro - com 86 anos de idade e cheio de planos - conseguiu reunir meios para provar que a empreitada pode ser realizada.
O projeto contempla amarrar um iceberg tabular (plano em cima) com um cinto duplo de geotêxtil. A primeira faixa envolve o bloco 6 metros acima do nível do mar. |
Foi um programa na tevê que revelou a nova estratégia. Nele, um arquiteto explicava sua teoria sobre a construção das pirâmides egípcias com o auxílio de um programa da empresa Dassault Systémes, especializada na elaboração de simulações em 3D. Mougin gostou do que viu e percebeu que o modelo de simulação poderia lhe ser útil: "Se puderam ajudar aquele arquiteto com as pirâmides, certamente poderiam me ajudar com meu projeto do iceberg", conta. Com a ajuda de Cédric Simard, diretor de projetos da Dassault, uma equipe reuniu todos os dados e preparou uma simulação virtual solidamente fincada no mundo real: o projeto Ice- Dream.
Vários fatores condicionam o empreendimento: o abastecimento do barco encarregado do reboque, a taxa de derretimento do iceberg, as condições específicas do oceano, da temperatura, dos ventos, das correntes marinhas, das ondas e dos redemoinhos. Depois de dois anos de análise a equipe da Dassault Systèmes anunciou, no primeiro semestre do ano, um plano plausível.
O plano prevê
rebocar um iceberg do litoral da Terra Nova (costa leste do Canadá) até
as Ilhas Canárias, da Espanha, no outro lado do Atlântico, por cerca de
4.500 quilômetros. |
"Desta vez estamos mais perto do que jamais estivemos de tornar realidade o sonho de capturar icebergs", disse o engenheiro francês à PLANETA. "Principalmente por causa do uso das tecnologias de desenho, de teste e de simulação em 3D. Essas são tecnologias utilizadas por grandes clientes nas indústrias aeroespacial, naval e automotiva para lançar novos projetos. Elas nos permitem testar todos os aspectos do empreendimento e ajudam a antecipar quaisquer problemas antes de concretizá-lo."
De acordo com Mougin, os principais obstáculos são o tempo e os recursos necessários para aperfeiçoar os detalhes. "É por isso que o ambiente de design e de planejamento virtuais nos deixa mais perto do mundo real mais rapidamente."
Aos 86 anos, o engenheiro francês Georges Mougin quer realizar o projeto da sua vida: "Estamos mais perto do que jamais estivemos de tornar realidade o sonho de capturar icebergs." |
Passo a passo
A partir dos estudos de
simulação tridimensional, Mougin e Simard estabeleceram o seguinte
roteiro para capturar icebergs:
Decidir, com um glaciologista, qual a estação do ano mais adequada para capturar icebergs. A primavera no Hemisfério Norte parece a melhor.
Definir o tamanho do iceberg, nem muito grande nem muito pequeno. O bloco de gelo deve ser do tipo tabular, plano na parte de cima, que apresenta risco mínimo de fratura e é mais fácil de rebocar.
Amarrar o iceberg com cinto duplo de geotêxtil (manta não tecida composta de filamentos de polipropileno), tensionado com o auxílio de estacas fixadas no gelo. Uma faixa do cinto estendese por seis metros acima do nível da água e outra por seis metros abaixo dela, defendendo o bloco das ondas que podem corroê-lo.
(Fonte: Revista Planeta )
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