15/02/2012 - Ártico aquece a seu nível mais alto e pesquisadores temem pontos críticos

15/02/2012


No último ano, o Ártico, que está esquentando mais rapidamente do que qualquer lugar na Terra devido às mudanças climáticas globais, experimentou seus doze meses mais quentes. De acordo com dados recentes da NASA, as temperaturas árticas médias em 2011 ficaram 2,28 graus Celsius acima das registradas de 1951 a 1980.

À medida que o Ártico esquenta, pondo em perigo sua biodiversidade e seus povos indígenas, os pesquisadores ficam cada vez mais preocupados que a região atinja pontos climáticos críticos que podem impactar severamente no resto do mundo. Um comentário recente na Nature Climate Change destacou o número de pontos críticos que estão tirando o sono dos cientistas.

 

“[Os pontos críticos] podem gerar mudanças climáticas profundas que colocam o Ártico não na periferia, mas no centro do sistema terrestre”, disse o professor Duarte, climatologista do Instituto Oceânico da Universidade do Oeste da Austrália e coautor de outro estudo, em um comunicado à imprensa. “Isso tem grandes consequências para o futuro da espécie humana à medida que as mudanças climáticas avançam.”

 

Um dos pontos críticos é a perda de gelo marinho. O Ártico não estava apenas relativamente quente no último ano – batendo o recorde anterior estabelecido em 2010 de 0,17 graus Celsius – ele também experimentou o menor volume de gelo marinho já registrado, e a segunda menor extensão. O gelo marinho é essencial para muitas espécies árticas, de ursos polares a morsas, e de narvais a focas.

 

Em apenas 30 anos, o volume de gelo marinho caiu vertiginosamente, diminuindo 76% de 1979 (16.855 quilômetros cúbicos) a 2011 (4.017 quilômetros cúbicos). Essa perda de gelo marinho também leva a um aquecimento regional e global, já que o gelo do Mar Ártico reflete a luz solar de volta ao espaço, resfriando não apenas a região, mas o mundo.

 

A perda de gelo marinho pode também ter um impacto direto no clima das latitudes médias. Na verdade, pesquisas recentes sugerem que o período de frio extremo experimentado pela Europa neste inverno esteja ligado à diminuição do gelo marinho no Ártico.

 

Pesquisadores argumentam que a Oscilação Ártica, que é parcialmente responsável pelas condições climáticas do Hemisfério Norte no inverno, perturbou-se pela diminuição do gelo marinho, causando mais invernos extremos, como o período de frio na Europa e as grandes nevascas que atingiram os EUA em 2009 e 2010.

 

Mas não é apenas a perda de gelo marinho que criou grandes preocupações: os gases do efeito estufa (GEEs) do derretimento do gelo permanente também podem ser desastrosos.

 

Um estudo publicado na Nature no ano passado alertou que as emissões de GEEs do derretimento do gelo permanente poderiam se igualar à quantidade emitida atualmente pelo desmatamento mundial, uma estimativa significativamente maior do que a havia sido apresentada anteriormente.

 

Além disso, já que as emissões do derretimento do gelo permanente incluem metano, um GEE mais potente do que o carbono, o degelo poderia ter um impacto 2,5 maior do que o desmatamento global.

 

“A estimativa maior deve-se à inclusão de processos não detectados nos modelos atuais e novas estimativas da quantidade de carbono orgânico estocado no fundo de solos congelados”, explicou o coautor Benjamin Abbott, estudante de graduação da Universidade do Alasca em Fairbanks, em um comunicado à imprensa. “Há mais carbono orgânico nos solos setentrionais do que há em todas as coisas vivas combinadas; é incompreensível.”

 

O pesquisador da Universidade da Florida Edward Schuur afirma que não espera que as emissões de GEEs do gelo permanente ultrapassem as emissões de GEEs antropogênicas (causadas pelos humanos) logo, embora elas possam se tornar “um amplificador importante das mudanças climáticas”.

 

Outros pontos críticos incluem uma entrada de água doce no Oceano Atlântico por causa do derretimento do gelo e das geleiras, já aumentado em 30%, o que Duarte declara que “pode afetar todo o sistema de correntes oceânicas e, como resultado, o clima em um nível regional”.

 

Os governos têm respondido ao aquecimento no Atlântico com uma corrida por recursos. Os governos nos territórios árticos planejam expandir drasticamente a exploração de petróleo e gás, utilizando novas rotas de navegação, e aumentar a mineração. A industrialização do Ártico, segundo Duarte, pode acelerar os impactos na frágil região e aumentar os pontos críticos.

 

“[Os pontos críticos do Ártico] representam um teste para nossa capacidade como cientistas e como sociedades de responder às mudanças climáticas abruptas”, disse Duarte. “Precisamos parar de debater a existência dos pontos críticos no Ártico e começar a lidar com a realidade das perigosas mudanças climáticas.”

 

“Argumentamos que os pontos críticos não precisam ser pontos sem volta. Muitos pontos críticos, como a perda do gelo marítimo de verão, podem ser reversíveis a princípio – embora difíceis na prática. No entanto, se essas mudanças envolverem a extinção de espécies chave – como os ursos polares, as morsas, as focas dependentes de gelo e mais de mil espécies de algas de gelo – elas podem representar um ponto sem volta.”

 

A solução, afirmou Duarte, é cortar as emissões de combustíveis fósseis, que estão causando as mudanças climáticas.

Fonte: http://www.tratamentodeagua.com.br

Mongabay/ Instituto Carbono Brasil






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