07/11/2011 - O desafio de alimentar 7 bilhões de pessoas
07/11/2011
Frear o ritmo do crescimento é uma
necessidade urgente.
A Organização das Nações Unidas anunciou que
a população mundial atingiu nesta semana a marca de 7 bilhões, apenas 12 anos
depois de ter atingido o nível de 6 bilhões. E, se as projeções da ONU
estiverem certas, a população mundial alcançará 8 bilhões em apenas 13 anos e
chegará a 9,3 bilhões em meados do século.
A grande questão é se a humanidade está
ficando grande demais e, no processo, colocando em risco o bem-estar das
pessoas, a posteridade e o planeta. A Global Footprint Network adverte que a
humanidade já vive além da capacidade da Terra de regenerar recursos naturais,
e até 2050 precisaremos de dois planetas para acompanhar o crescimento da
população e o aumento do consumo. A boa nova, porém, é que, se dermos os passos
certos, o crescimento populacional não precisa ser tão acelerado como afirmam
as projeções. Reduzir o crescimento populacional precisa ser uma necessidade
urgente de todas as nações. Aliás, há amplas evidências sugerindo que a
humanidade já está exercendo uma pressão excessiva no meio ambiente mundial. As
temperaturas em elevação e a crescente frequência de condições climáticas
severas sugerem que podemos estar alterando o clima terrestre. Além disso há o
esgotamento da pesca oceânica, a regressão contínua dos níveis dos mares, a desertificação
e a rápida taxa de extinção de espécies. Fica óbvio que estamos flertando com
um desastre ambiental.
Podemos estar chegando aos limites do
crescimento econômico. Nos 12 anos desde que atingimos a marca de 6 bilhões, o
preço do petróleo subiu de pouco mais de US$ 10 o barril para quase US$ 100 o
barril. Além disso, o preço dos cereais e outros alimentos básicos mais que
dobrou nos últimos sete anos, contribuindo para grandes retrocessos nas lutas
contra a fome e a pobreza extrema. Com quase 1 bilhão de pessoas famintas no
mundo, crescem os temores de que a produção de alimentos talvez não seja capaz
de acompanhar o projetado crescimento da população.
A Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO) afirma que a produção de alimentos nos países
em desenvolvimento terá de dobrar nos próximos 39 anos para acompanhar o
crescimento demográfico. Para isso, os agricultores desses países terão de
superar vários obstáculos, incluindo os custos crescentes de combustíveis e
fertilizantes, temperaturas mais altas, mais enchentes e secas recordes, perda
de solo superficial e a competição da urbanização e dos biocombustíveis pelas
terras aráveis.
Mas não estamos condenados, e pelas seguintes
razões.
Não custa trilhões de dólares ampliar as opções
de planejamento familiar para mulheres em países em desenvolvimento. A ONU
calcula que há 215 milhões de mulheres no mundo em desenvolvimento que querem
evitar a gravidez, mas não estão usando um método eficaz de controle de
natalidade. A ONU calcula que dar a elas acesso a contraceptivos custaria US$
3,5 bilhões adicionais por ano – uma fração dos US$ 125 bilhões que os EUA e
outros países doadores gastam anualmente para ajudar países em desenvolvimento.
A falta de acesso a contraceptivos, porém, é
apenas uma das razões pelas quais as mulheres não conseguem evitar a gravidez
em países em desenvolvimento. O maior desafio é retardar a idade de casamento.
Casamentos infantis levam à gravidez
prematura e perigosa e a elevadas taxas de natalidade. Espantosamente, uma
média de 25 mil meninas por dia se tornam noivas crianças. No Iêmen rural, por
exemplo, as meninas com frequência são levadas ao casamento com 9 ou 10 anos. É
por isso que um grupo de ex-presidentes e líderes mundiais, denominado The
Elders (os anciãos), lançou a campanha internacional “Girls Not Brides”
(garotas, não noivas) para acabar com a prática de noivas crianças mediante
parcerias com organizações humanitárias e não governamentais de todo o mundo.
O casamento infantil já é ilegal na maioria
dos países. São urgentemente necessários programas que façam valer a pena para
os pais manter suas meninas na escola. O Programa Mundial de Alimentação da
ONU, por exemplo, fornece merenda escolar para meninas, e, em alguns casos,
permite que a comida seja levada para casa.
Há também estratégias comprovadas de baixo
custo para mudar normas sociais. Esforços direcionados para pôr fim a práticas
perniciosas como o enfaixamento dos pés na China e a mutilação genital feminina
no Senegal foram bem-sucedidos. Da mesma forma, com a promoção de modelos
exemplares dos benefícios trazidos por famílias menores e pelo retardamento do
casamento, programas de entretenimento conseguiram resultados transformadores
em países como México e Brasil. Hoje, novelas de rádio que atingem povoados
remotos em países de desenvolvimento pobres podem informar as mulheres sobre
opções de planejamento familiar e melhorar atitudes e comportamentos.
Combinadas com informações e serviços de
planejamento familiar, essas campanhas de educação e mudança social podem
ajudar a baixar as taxas de natalidade, diminuir a mortalidade materna e
infantil, potencializar mulheres, fortalecer a segurança alimentar, melhorar as
perspectivas econômicas, e ajudar o meio ambiente. Alguns argumentaram que, por
causa de taxas de natalidade declinantes, os temores com o crescimento
populacional são coisa do passado. Mas atingir a marca de 7 bilhões não é razão
para se “estourar champanhe”, como um comentarista sugeriu.
Num mundo às voltas com mudanças climáticas e
aumento nos preços de energia e alimentos, subestimamos o impacto do
crescimento populacional por nossa conta e risco. Mas esse não é um desafio
insuperável e enfrentá-lo se constitui num projeto em que todos ganham: as
pessoas, a posteridade e o planeta.
Tradução: Celso Paciornik.
(Fonte:envolverde.com.br)
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