Lodo de esgoto e resíduos orgânicos viram eletricidade no Paraná

04/06/2018


Por meio de um procedimento conhecido como biodigestão, usina paranaense transforma 300 toneladas de resíduos orgânicos e 1 mil m3 de lodo de esgoto em 2,8 MW de energia

Redação AECweb / e-Construmarket

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É possível transformar resíduos orgânicos e lodo de esgoto em biogás para a produção de energia (foto: CS Bioenergia)

O estado do Paraná é palco de uma iniciativa inédita para a produção sustentável de energia. Pela primeira vez no Brasil, a combinação entre resíduos orgânicos e lodo de esgoto está sendo aproveitada na fabricação de biogás por meio de um processo conhecido como biodigestão. Posteriormente, o produto resultante do procedimento é utilizado como matéria-prima na geração de eletricidade.

A usina responsável pela biodigestão é operada pela CS Bioenergia, formada pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e pelo grupo Cattalini Bio Energia. O empreendimento, que em fevereiro de 2018 adquiriu a licença para operar, tem capacidade de receber 300 ton. de resíduos orgânicos por dia. A planta pode gerar até 2,8 MW de energia, quantidade suficiente para abastecer duas mil casas populares.

“Usamos equipamentos modernos, capazes de fazer a separação do lixo. As máquinas conseguem recolher automaticamente o material orgânico que está misturado com embalagens plásticas ou garrafas”, explica Sérgio Vidoto, sócio-fundador da Cattalini Bio Energia. E completa: “A instalação está entre as mais completas do mundo, já que em países da Europa os resíduos têm que ser separados ainda na origem”.

A instalação está entre as mais completas do mundo, já que em países da Europa os resíduos têm que ser separados ainda na origem
Sergio Vidoto

ENTENDENDO A BIODIGESTÃO

Todo tipo de resíduo que contém matéria orgânica pode ser utilizado na biodigestão. No caso da usina paranaense, o material é proveniente de grandes geradores existentes na região metropolitana de Curitiba, como supermercados, shoppings, indústrias alimentícias e das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa). O volume é coletado por caminhões que fazem o transporte até a usina, onde ficam inicialmente armazenados em um tanque.

Na sequência, o material é automaticamente enviado para um moinho de martelo, responsável por triturá-lo e também separar a fração orgânica das possíveis embalagens. “Os resíduos são bombeados para os biodigestores, onde acontece a mistura com o lodo de esgoto proveniente da estação de tratamento. A massa homogeneizada é agitada por agitadores e aquecida, produzindo um biogás de altíssima qualidade”, detalha o especialista.

O segredo da biodigestão está nas bactérias presentes no lodo de esgoto. Os seres vivos microscópicos se alimentam do material orgânico, produzindo um gás com grande participação de metano — característica perfeita para produzir biogás de qualidade. No processo de transformação do gás em eletricidade, também é gerada energia térmica, tudo de maneira limpa e sustentável.

ENERGIA GERADA

Para gerar 2,8 MW de energia, a usina precisa receber 1 mil m3 de lodo de esgoto diariamente, além de 200 toneladas de resíduos orgânicos. “A eletricidade resultante será injetada na rede de distribuição e também aproveitada pela própria Sanepar”, comenta Vidoto. A CS Bionergia aguarda autorização da Companhia Paranaense de Energia (Copel) para integrar a rede de energia do Paraná.

Apesar dos benefícios, o biogás não tem grande representação na matriz energética nacional. Sua participação é contabilizada juntamente com outros elementos, como o bagaço e a palha da cana, resultando na chamada biomassa. Informações do Ministério de Minas e Energia mostram que essa fonte foi responsável por 8,8% da energia gerada no Brasil em 2016. Já o continente europeu tem 14 mil plantas de biogás por meio de biodigestão.

Essa é uma planta inovadora, economicamente sustentável e que mitiga a utilização de aterros sanitários, problema comum em vários municípios
Sergio Vidoto

MAU CHEIRO

Tanto o lodo do esgoto quanto os resíduos orgânicos trazem como problema o mau cheiro. Para contornar a situação, a usina conta com diferentes soluções. “Para o lodo, todo transporte acontece por meio de um complexo sistema de bombeamento em tubos de aço inoxidável. Já os resíduos são armazenados em tanques vedados e com controle de oxigênio, o que evita a propagação de odores desagradáveis”, esclarece o profissional.

VANTAGENS

Além da geração de energia limpa e renovável, outra grande vantagem do sistema é aliviar a quantidade de resíduos encaminhados para os aterros. “Um benefício complementar é o atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil, que determina o tratamento e reaproveitamento da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos”, destaca o especialista.

Quando a geração do biogás não aproveita todo o material, o volume excedente não é desperdiçado, mas utilizado na produção de biofertilizantes. Já o plástico que chega junto com o lixo é reciclado e usado na fabricação de sacolas. Com isso, todo o ciclo se fecha e os resíduos, que seriam enterrados quando chegassem aos aterros, acabam sendo plenamente aproveitados na usina de biodigestão.

INVESTIMENTOS

Segundo o profissional, o investimento na usina foi de R$ 62 milhões, sendo que o período de retorno do investimento é avaliado entre nove e 10 anos. “Essa é uma planta inovadora, economicamente sustentável e que mitiga a utilização de aterros sanitários, problema comum em vários municípios. Temos interesse em desenvolver novos modelos de negócios”, finaliza Vidoto. A expectativa é que os resultados obtidos estimulem a adoção da tecnologia em outros estados.






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